terça-feira, 6 de março de 2012

Cartas Uruguaias - Nº 2

   Hoje o dia amanheceu chuvoso em Montevideo (sim, com "o" no final mesmo). O calor dos últimos três dias resolveu dar uma trégua. Hoje pude caminhas pelas Ramblas sem me desmanchar em suor. Foi possível até sentir cotra o rosto uma leve brisa vinda do "Mar de la Plata" (não, você não fugiu às aulas de geografia, é que as pessoas aqui tratam o rio como um grande mar de água doce.)
   Ontem estive em Punta del Este. O que eu posso dizer? A Riviera Francesa é logo ali. O lugar é de uma beleza natural aliada a uma sofisticação digna das mais badaladas praias do sul da França.
   Apesar dos perrengues que eu passei, como os 4km que eu tive que caminhar da estrada até a Casa Pueblo e mais os 2km da Casa Pueblo até a estrada, isso por volta das 20:30, com um dilúvio para cair e quase não conseguia pegar o último ônibus semi direto para Montevideo...
   Mas a cerimônia " de la puesta del sol" é um espetáculo a parte.  O poema de Vilaró soando enquanto o sol vai se pondo naquela paisagem paradísiaca é de deixar qualquer um arrepiado.
  Depois da aventura de ontem resolvi fazer um dia mais light hoje. Volteu à "ciudad vieja" visitei o museu pedagógico, onde se pode notar a importância que os uruguaios dão ao ensino público e a evolução da escola pública uruguaia nos últimos dois séculos. Hoje soube duas coisas bastante interessante sobre a educação no Uruguai: este é o único país do mundo não lusófono onde o ensino do português é obrigatório a partir da 5° série e todo estudante uruguaio tem direito a um laptop subsidiado pelo governo.
  Continuei caminhando pela Avenida 18 Julio até a Plaza Independencia ( aviso aos navegantes: O Mausoleu do General Artigas está fechado para reformas), fiz a visita guiada no Teatro Solís (a sala principal é quase uma réplica do Teatro Scala de Milão), me perdi propositalmente pelas ruas tortuosas da ciudad vieja e cheguei ao Mercado do Porto. Havia uma parrillada que parecia deliciosa sendo assada em um dos restaurantes, mas o meu estomago ainda não está preparado para o turismo gastronomico nestas latitudes do continente. Se amanhã a temperatura estiver assim, talvez eu prove um bom corte de carne uruguaia acompanhada de uma boa taça de Tannat...
  Voltei para o Hostel caminhando pela Rambla ao invés de caminhar pelo centro. Fiquei algumas horas sentado ali à beira do rio, vendo o vai-e-vem das pessoas. Impressionante como em plena uma tarde de terça-feira as pessoas estavam tomando mate e jogando conversa fora. Uma das coisas que me impressionou bastante aqui em Montevideo é que apesar de ser uma capital, a cidade tem um ritmo bem interiorano. Se eu vivesse aqui pelo menos dois meses, com certeza essas rugas precoces desapareceriam.
    Como é bom mirar o horizonte e não enxergar limites nele. É assim aqui no Rio da Prata, parece que a extensão do rio não tem limite. Acredito que a vida seja assim também: um horizonte sem fim. O problema é que as vezes ficamos muito tempo olhando as ondas batendo nas rochas e esquecemos de levantar a cabeça e olhar as oportunidades que só estão esperando para serem exploradas.
  Porém nunca é tarde para levantar a cabeça e ver o belo pôr do sol que está fazendo la adiante...

Casa Pueblo

Pôr do Sol visto a partir dos balcões da Casa Pueblo

Pôr do Sol hoje em Montevideo. Belissimo apesar das nuvens.

Punta del Este

   

  
 

domingo, 4 de março de 2012

Cartas Uruguaias - N° 1

Eu poderia começar citando Pero Vaz de Caminha: "A terra em si, é de muito bons ares..."

    Montevideo (ou Montevidéu na grafia brasileira) é uma cidade encantadora. Não tem a pretensão de ser europeia como Buenos Aires, mas também não tem aquele ar provincial. A cidade é pequena, as pessoas são amáveis e o Rio Prata é generoso com este lugar, para qualquer lugar que se olha, ali está o Río de La Plata abraçando Montevideo. Enfim, como já era esperado, caí de amores pela cidade antes mesmo do avião tocar o solo uruguaio.
   O voo foi tranquilo, apesar do meu problema com aviões. O "badalado" atendimento da TAM não me surpreendeu tanto. Porém, pelo preço que eu paguei pelas passagens se eles me envolvessem em plástico bolha e me amarrase no compartimento de cargas eu ainda estava saindo no lucro.
   Diferente do meu desembarque há 18 meses atrás na outra margem do Prata, o meu desembarque em Montevideo foi super tranquilo. O agente de imigração foi super educado e consegui chegar no centro da cidade sem grandes problemas.
   Cheguei ao hostel por volta das 15:00 larguei tudo no locker e fui ter o primeiro contato com a cidade. Visitei a Plaza de Caganha, a Plaza Independencia, a Peatonal Sarandí... Enfim, "o casco viejo" de Montevideo.
   No final da tarde tomei um táxi (que ficou uma pequena facada) até a Fortaleza del Cerro. Bem, o museu estava fechado, mas a vista que se tem da baía de Montevideo valeu o valor da corrida. Simplesmente sensacional.
   Hoje o dia foi dedicado às Ramblas. Caminhei cerca de 18km entre a Playa de Buceo o Barrio Sur. Sensacional (acredito que vou repetir várias vezes esta palavra).
  Aqui está fazendo um calor infernal, hoje a temperatura encostou nos 37°C. Passei um pouco mal devido o calor, mas  já está tudo em ordem novamente.
  Já conversei com alguns brasileiros, franceses e uruguaios. Mas, ainda, não encontrei ninguém para sair durante o dia. No entanto, estou curtindo muito ficar um pouco sozinho com os meus pensamentos.
  Estou precisando deste tempo comigo mesmo. Reavaliar algumas diretrizes da vida. É muito mais fácil realizar o exercício da reflexão sobre os seus atos quando você está fora do palco que você atua.
  Bem, amanhã eu talvez eu vá a Punta del Este. Segundo as previsões a partir de terça-feira o tempo irá mudar aqui, e ir para Punta com chuva e ficar sem o pôr do sol na Casa Pueblo seria frustrante.

Palacio Salvo

Puerta de la Ciudadela

Vista da Baía de Montevideo desde o Cerro



 

  

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Quando um caipira vai a Buenos Aires - Final


5° dia: La Boca e San Telmo

                O domingo é um dia que começa realmente tarde nas cidades de herança hispânica. Saímos do Hostel por volta das 10h30 da manhã, mas a impressão que se tinha era que a cidade ainda estava dormindo.
                A intenção desse dia era visitar Caminito em La Boca e o bairro de San Telmo. Tomamos um taxi em direção a La Boca com um senhor muito simpático que nos advertiu bastante sobre as condições de segurança do local e o cuidado redobrado que deveríamos ter com os nossos pertences.
                Caminito é o passeio mais pega turista de Buenos Aires. No entanto, se é a sua primeira vez em Buenos Aires é parada obrigatória. Nada demais. Uma rua, com casinhas coloridas, com lojinhas de artesanato, restaurantes, casais de tango e artistas de rua que dividem espaço com um mar de turistas (95% deles brasileiros). 
                O lado interessante da rua-museu fica por conta da parte histórica mesmo. A maioria dos imigrantes italianos recém-chegados na Argentina se instalava naquela região. Sem dinheiro para construir uma morada digna, estes reutilizavam os cascos e restos de contêineres para fazerem suas casas. Ou seja, aquelas casinhas coloridinhas, minúsculas em formato de cubo, na verdade já abrigou famílias inteiras dentro delas.
                Por ser uma zona essencialmente turística tudo por aqui é muito caro. Uma parilhada custa os olhos da cara, um cafezinho pode ser mais caro que do Starbucks em São Paulo e nem pense em tirar uma foto com um casal de dançarino de tango ou um sósia do Maradona que circula por lá sem antes desembolsar, no mínimo, AR$ 40,00.
                Seguindo pelo Caminito até o final você já sairá de frente para o Estádio do Boca Juniors.  O Museu “de la pasión boquense” merece uma visita, bem como o estádio em si. Mesmo que você não seja um aficionado por futebol, faça a visita. Afinal de contas, você está na Argentina. E eles encaram futebol não como uma arte (como fazemos aqui no Brasil), mas como uma religião. As pessoas choram por seu time de futebol, amam realmente a camisa de seus times. Se você tiver uma oportunidade de ver um jogo no La Bambonera, então, não deixe passar. Alguns hostels oferecem a entrada para o jogo + transfer + cerveja a partir de AR$ 100,00.
                Feita a visita ao “famoso” Caminito e ao Estádio do Boca Juniors saímos andando em busca da feira de San Telmo. Nem preciso falar que ficamos perdidos. E pela primeira vez em Buenos Aires eu senti realmente medo. Eu andando com uma mochila nas costas, com um guia debaixo do braço e cara de desesperado, estava mais do que na cara que eu era turista.
                O mais longe que conseguimos chegar foi ao Parque Lezama em San Telmo. O bairro é bem legal, com ruas ainda em paralelepípedos, um ar parisiense dos anos 20. No Parque Lezama se encontra o Museo Historico Nacional que exibe documentos e objetos históricos desde o tempo do Vice Reinado do Prata. Uma visita é recomendada para quem quer entender um pouco mais da história colonial da Argentina.
                Em frente ao parque fica a Igreja Ortodoxa de Buenos Aires.  Rende bonitas fotos. Mas, para quem mora em São Paulo e já visitou a Catedral Metropolitana Ortodoxa...
                Tendo em vista que o frio estava cortante (a temperatura não passou dos 5°C apesar do céu azul), e eu ainda estava curtindo a ressaca da noitada anterior, resolvemos tomar um taxi ali mesmo e voltar para o hostel. Dormi até o início da noite. Acordei, cozinhamos algo e ficamos assistindo filme e socializando com o pessoal do hostel. O meu domingo portenho foi chato. Para minha sorte, lá não passa Domingão do Faustão. (rs)

Caminito







La Bambonera

Antigo Porto de Buenos Aires en La Boca

Museo Historico Nacional

Canhão do Museo Historico Nacional

Igreja Ortodoxa






6° Dia: Delta del Tigre, Belgrano e Puerto Madero



                Acordamos cedo e dispostos a aproveitar melhor o dia. Fomos caminhando até a estação de trens de Retiro. Lá tomamos um trem até a estação Maipú de onde se toma um trem turístico chamado de Tren de La Costa que vai até a cidade de Tigre. O trenzinho é confortável e você pode descer nas estações intermediárias e depois embarcar novamente. O preço de ida e volta ficou em AR$30,00.
                Mas, sinceramente, se você está querendo economizar o seu rico dinheirinho, pegue um trem suburbano comum até a cidade de Tigre. O “tren de la costa” só tem costa no nome mesmo. Em seu trajeto não se margeia o rio Prata, salvo em alguns pouquíssimos trechos.
                Tigre é uma cidade muito charmosa. Para coisa de filme americano.  Não é um passeio essencial, mas se você dispõe de mais de cinco dias em Buenos Aires, vale a pena sim. Na cidade tem opção de percorrer os canais em catamarã, a época, o passeio de 1h estava custando em média AR$ 45,00. Mas, vai uma dica importante: não faça esse passeio em pleno inverno com uma temperatura por volta dos 4°C.  E as segundas-feiras, pelo menos durante a baixa temporada, a cidade simplesmente estava fechada.
                Mas valeu pela paisagem, o lugar é lindo. Existe um parque de diversões também logo saindo da estação de trem o “Parque de la Costa”, estava fechado. Mas quem foi diz que é legal.
                Na volta descemos em Belgrano onde visitamos o Museu de Arte Espanhol, logo em frete fica a Igreja da Imaculada Conceição com seu formato redondo e uma arquitetura simplesmente fantástica, vale a pena uma visita.
                Se Recoleta e Palermo nos remetem aos bairros parisienses, Belgrano nos remete aos subúrbios chiques das grandes cidades anglo-saxãs. Andar por Belgrano R é uma delícia, não o deixe de fazer. O bairro também oferece várias opções de compras na Avenida Cabildo, além de outras atrações turísticas como o Bairro Chino (bairro chinês) e o museu de Arte Sarmiento.
                Na volta peguei a linha D do metro, fiz as devidas baldeações e cheguei a Retiro. De lá fui andando pelas docas de Puerto Madero. Simplesmente sensacional. Esta é sem dúvidas a minha parte favorita da cidade.  Aproveitei para simplesmente caminhar e apreciar a paisagem. Há uma fragata-museu ancorada em Puerto Madero que pode ser visitada. Mas, preferi ficar olhando o movimento dos turistas e tirando as minhas últimas fotos. Voltei andando ao Hostel caminhando pela Avenida de Mayo.

Tren de la Costa


Tigre






Iglesia de la Imaculada Conceción

Patio do Museu de Arte Espanhola

Belgrano

Puerto Madero



Puente de la Mujer

Fragata Sarmiento


7° dia: Compras e Ezeiza

                Como o voo estava marcado para as 21h30 a minha ideia era aproveitar esse dia para ir até o Zoológico de Lujan. Infelizmente com a chuva torrencial que estava caindo, tive que abandonar a ideia. Fizemos o check-out no hostel e fomos às compras na Florida.
                Voltamos ao hostel pegamos nossas coisas e às 18h00 pelo preço de AR$110,00 um taxi fechado previamente com o hostel nos deixou em Ezeiza.
                Devido ao mal tempo nosso voo atrasou e saímos de lá quase 1h30 atrasados. Por volta das 02h00 estávamos aterrissando em Guarulhos. E foi assim que se encerrou a nossa saga portenha.  Deixei a cidade com a certeza que em muito breve eu voltaria...


sábado, 4 de fevereiro de 2012

Quando um caipira vai a Buenos Aires - Parte II


3° Dia: Retiro, Barrio Norte e Recoleta



                Este foi um dos dias que eu mais andei em Buenos Aires. Comecei caminhando pela Avenida Leandro N. Alem onde estão instalados diversos escritórios de empresas nacionais e multinacionais em modernos edifícios, diria que seria algo como a Avenida Luís Carlos Berrini para os paulistanos. Ali você avistará a Torre Catalinas Norte com seus 109 metros de altura e que é um cartão postal da nova Buenos Aires.  Seguindo a mesma avenida até o final você sairá de frente para a praça onde está a Torre de Los Ingleses (mas desde a guerra das Malvinas o monumento é conhecido como Torre Monumental), em frente está a estação de trem de Retiro, que é lindíssima por dentro com um estilo arquitetônico que lembra bastante a Gare du Nord de Paris. Saindo da estação não deixe de ir ao Memorial da Guerra das Malvinas e a esquerda você avistará o Edifício Kavanagh que com 120m de altura já foi considerado o maior edifício da América do Sul.
                Fazendo o contorno pela Plaza San Martín é só descer a Florida (sim, a doce tentação das compras) e pegar a Avenida Santa Fé, cruzando a 9 de Julio, aproveite para dar uma olhada nas vitrines ou apenas observar os portenhos. Buenos Aires é uma cidade reta e plana em sua maior parte, andar por aqui é agradável.  Na Santa Fé fica a paroquia San Nicolas de Bari que tem uma faixada muito bonita e tem um valor histórico muito importante para a cidade, como em 1806 quando os portenhos usaram a igreja como depósito de munição na batalha para expulsar os ingleses da cidade.
Depois deste ponto eu fiquei meio perdido. Estava no Barrio Norte que junto com a  Recoleta formam o complexo que eu apelidei “Petite Paris”. A similaridade das construções, das ruas largas e arborizadas, das faixadas em art déco, enfim... Neste pedaço de Baires, definitivamente se respira Paris e o seu ar aristocrático. Quando me dei conta estava na Plaza Vicente Lopez onde está a igreja do Sagrado Coração (sim, os argentinos são bastante religiosos e se você gosta e se interessa por arte sacra aproveite o que as igrejas da cidade oferecem). Bem, sabia que as embaixadas do Brasil e da França estavam por aqui em algum lugar, e dessa vez eu realmente fiquei perdido. Fiquei andando em círculos (mas como estava distraído pela arquitetura do local nem entrei em pânico). Vira uma rua aqui, dobra outra ali, vira à esquerda e direita aqui, finalmente cheguei à Embaixada do Brasil.
A embaixada fica num casarão imenso, é “embasbacante”, simples assim.  Ver a bandeira brasileira tremulando naquela construção tão requintada me deixou com um misto de orgulho e revolta. Orgulho por saber que estamos bem representados num país estrangeiro, mas revolta por saber que todo aquele requinte não corresponde à realidade brasileira. Como estava em reformas não dava para entrar. Mas pelo que eu percebi, ocorrem periodicamente exposições e mostras abertas ao público. Ao lado fica a embaixada francesa que é bem interessante também, mas é ofuscada pela grandeza da nossa.
                Já estava passando da hora do almoço e meu irmão já estava desmaiando de fome (estava achando tão interessante tudo aquilo que até esqueci que precisava comer). Atravessamos até a 9 de Julio (neste ponto já é o finalzinho dela) e almoçamos num restaurante bem simpático na esquina com a Av. Alvear. Por módicos AR$ 33,00 nos serviram um bife a parmegiana acompanhado por uma guarnição de arroz, “papas frita” (com o tempo você percebe que tudo que é servido na Argentina vem acompanhado de batatas) e com direito a “una copita de vino”. Com o estomago devidamente forrado e um pouco entorpecido por aquela taça de malbec (sabe como é? Beber de estomago vazio sobe rapidinho) seguimos pela Avenida Alvear até chegar a Recoleta.
                Recoleta, o bairro onde está o famoso cemitério. Todos querem ver onde jaz Eva Perón. A mãe dos descamisados. A lenda argentina... É, foi com essa intenção que eu fui a Recoleta também.  Já no final da Avenida Alvear é possível avistar o cemitério. Quando eu fui estava havendo uma reforma no portão principal e eu tive que entrar por uma porta lateral. A entrada no cemitério é gratuita. Mas, tem uns cidadãos que ficam na portam vendendo um mapa do cemitério em troca de “una contribuición para ayudar a los niños con SIDA” (uma contribuição para ajudar as crianças portadoras de HIV). Bem, se é verdade ou não, sei que estava precisando de um mapa e contribui com uma nota de AR$10,00 (era a única de valor baixo que eu tinha no bolso) e peguei o mapa.
                O cemitério é imenso, com túmulos de estilo arquitetônico que vão do gótico, passando pelo barroco ao neoclássico. Apesar de macabro, não deixa de ser interessante. Várias figuras importantes da história argentina estão enterradas aqui. Ex-presidentes, generais, famílias tradicionais... Um banho de história. Mas, vamos ao que interessa, o túmulo de Evita Perón. Andei muito, entra ruela, sai ruela, cortejos fúnebres e finalmente encontro o túmulo de Eva Duarte (esse era o nome de solteira dela). Para quem vai esperando uma grandiosa obra de arte, decepção: o túmulo é extremamente simples. Ouvi de um professor de história que estava fazendo uma excursão ao local de que o túmulo da família Duarte é propositalmente simples para não atrair uma procissão de fãs.
Saindo do cemitério não deixe de visitar o Buenos Aires Design e o Hard Rock café. Os dois estão ao lado do cemitério e vale uma visita. Atravessando a avenida você estará nas escadarias da Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires. Simplesmente fantástica. Ao lado está o Museo de Bellas Artes, a época estava havendo uma exposição de Brassaï, porém não entrei (meu irmão não é um cara muito chegado à arte).  Andando mais um pouco ao lado esquerdo da Facultad de Derecho está a Flor Metálica, um dos cartões postais de Buenos Aires localizada na Plaza Naciones Unidas.
Voltando a Plaza Francia (na qual está o cemitério da Recoleta) fizemos uma parada no Freddo para tomar o tradicional “helado de dulce de leche”. Como diriam os lusitanos, é simplesmente bestial. Ir à Argentina e não provar o sorvete de Dulce de Leche do Freddo é como ir ao Vaticano e não visitar a capela sistina.  Saindo do Freddo saí em busca da embaixada do Reino Unido e da Biblioteca Nacional. Senhores, não me perguntem como eu cheguei. Lembro ter pedido muitas informações nas ruas adjacentes a Plaza Francia (argentinos muito solícitos para com a minha pessoa), perdido em meio aquelas casas ultra requintadas, lembro haver subido uma escadaria e ter chegado à embaixada britânica. Nada demais. É bonita. Lembra bastante as casas de West End. Se tirar uma foto em frente e falar que foi em Londres provavelmente irão acreditar.  A biblioteca nacional está bem próxima é uma construção bastante peculiar, meio expressionista. Dentro deve ser mais legal ainda, porém para variar não entrei no prédio.
                Já estava ficando tarde e a temperatura começava a despencar em queda livre. Fomos ao Supermercado Disco da Avenida del Libertador compramos aquele monte de guloseimas argentinas (os chocolates são deliciosos) e tomamos um táxi até o cruzamento da Bartolomé Mitre com a Florida e voltamos para o Hostel. Bem, devidamente alimentado e morto de tanto andar, não demorou muito para que eu caísse em sono profundo.
Dicas:
  • Oficialmente o Barrio Norte não existe. Em muitos mapas esta região é mostrada como parte da Recoleta.
  • Nas imediações da estação de trem de Retiro, atenção redobrada.
  •   Na Recoleta não deixe de visitar “O Ateneu”. Uma livraria antiguíssima e tida como uma das maiores do mundo.
  •  A visita ao Museu de Belas Artes é obrigatória. Em seu acervo fixo você encontrará obras de Pablo Picasso, Goya, Monet, Van Gogh...
  •   Não lembro ter visto nenhuma estação de metrô próxima as principais atrações da Recoleta.  A estação mais próxima que eu vi ficava na esquina da Santa Fé com a Pueyrredon (isso no Barrio Norte).

Torre Catalinas Norte

Torre de los Ingleses

Estação de Trem de Retiro

Interior da Estação


Memorial da Guerra das Malvinas

Edficio Kavanagh

Torre de los Ingleses desde a Plaza San Martín

San Nicolas de Bari

Plaza Vicente Lopez (Recoleta)

Igreja do Sagrado Coração

Embaixada do Brasil

Monumento na Plaza Francia

Detalhe do túmulo de Evita Perón


Buenos Aires Design


Museo de Bellas Artes

Facultad de Derecho

Flor Metálica

Embaixada do Reino Unido

Biblioteca Nacional



4° dia: Jardins de Palermo


        O sábado amanheceu com cara de primavera. Céu azul, sol, temperatura por volta de 19°C, dia perfeito para dar uma volta no parque.
        Fomos até a Florida (tudo o que íamos fazer em Buenos Aires passávamos pela Florida) compramos algumas coisas e fomos até a Plaza San Martín onde tomamos um metrô da linha D em direção à estação Congreso de Tucumán.  A saber, quem está acostumado com o metrô paulistano vai estranhar um pouco.  O metrô portenho é lento, cheio, completamente subterrâneo e as estações são sujas e desorganizadas. Mas, de qualquer forma, é um meio de transporte bastante eficiente para quem quer se descolar sem gastar muito. Pagamos AR$ 1,10 pelo bilhete simples.
        Descemos na estação Palermo, o que nos fez perder muito tempo andando até o Parque 3 de Febrero. O indicado é descer na estação Plaza Italia e você já sairá em frente ao Jardim Botânico e ao Zoológico.
        Você perceberá que quanto mais ou norte de Buenos Aires você for, maior será o nível econômico e social dos lugares. Palermo é ainda mais bonito do que Retiro. O maior bairro de Buenos Aires é dividido em quatro partes: Palermo Chico, Palermo Soho, Palermo Hollywood e Palermo Viejo. Os jardins de Palermo se estendem por uma área que vai da Avenida Santa Fé até a Costanera Rafael Obligado. Se você olhar no mapa é uma imensa área verde que funciona como um pulmão da cidade.
        Caminhar por Palermo é super agradável, as ruas são tranquilas, grandes, arborizadas, cheias de praças. Descendo na estação Palermo, viramos à direita na Avenida Bullrich, descemos até a sua intersecção com a Avenida del Libertador virando à esquerda e seguindo reto até o Parque 3 de Febrero. Pode parecer simples, mas esta caminhada durou quase uma hora (tudo bem que eu parava a cada 2 minutos para tirar uma foto). Então, não se deixe enganar pelos mapas, “o logo ali” pode se transformar em horas de caminhada.
        É importante uma ressalva. O Parque 3 de Febrero é um conjunto de parques que se espalham entre as Avenidas Casares e Del Libertador. O mais famoso deles é o El Rosedal. O parque é imenso, com várias espécies de flores (naquele finalzinho de inverno já era possível ver várias desabrochando), há varias esculturas espalhadas pelo parque. Você pode percorrer o parque a pé, alugar uma bicicleta ou dar uma volta de carruagem no maior estilo Central Park. Há também a opção de explorar um dos três lagos artificiais do parque de bote ou pedalinho. Em minha opinião o destaque do parque fica por conta do pátio andaluz, não deixe de ver.
        Ao lado do Rosedal fica o Planetário de Buenos Aires, infelizmente, no horário que eu cheguei estava fechado para visitação e só abriria dentro de algumas horas. Saí caminhando agora em busca do Jardim Japonês. Um conselho útil: fique perdido em Palermo sem medo de ser feliz. Desfrute das praças, dos monumentos que remetem vários acontecimentos da história argentina, se estiver cansado, pare em um café e aprecie a paisagem. Palermo é um daqueles locais que faz você se sentir feliz por estar vivo.
        O Jardim Japonês é um local maravilhoso também. Cheio de fontes, carpas e bonsais, um lugar que transborda tranquilidade. A entrada é paga, na época me custou AR$ 20,00. Mas, vale muito a pena. Há também um restaurante dentro do jardim, mas como eu não sou chegado à culinária oriental, optei por não entrar.
        Saindo do Jardim Japonês ,fui direto ao Malba, o Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires. A entrada me custou AR$ 15,00 e valeu cada centavo pago. A construção em si vale a pena à visita. Mas a possibilidade de conhecer a obra de vários pintores e escultores latino-americanos de diversos momentos artísticos, sem sombra de dúvidas é a melhor parte da visita. E, claro, não podemos esquecer o quadro de Tarsila do Amaral, o “Abaporu”, que faz parte do acervo permanente deste museu. Ver ao vivo o quadro que representa o início do movimento modernista em nosso país, não tem preço.
        Para chegar ao Jardim Botânico desde o Malba basta entrar na rua Republica de India e seguir direto. Logo você avistará um dos portões de acesso. O Jardim Botânico possui mais de 5.500 espécies de plantas.  Oferecendo aos visitantes três tipos de jardinagem paisagística: o jardim romano, o jardim francês e o jardim oriental. (Não vou me alongar muito, quem quiser saber mais é só dar uma passada na Wikipédia).  Há também no parque estufas, uma biblioteca especializada em botânica e um museu. Um prato cheio para que gosta de plantas. Mas, se você é um daqueles que gosta de apenas curtir a paisagem, sente-se num banquinho e relaxe.
        Ao lado do Jardim Botânico fica o Zoológico de Buenos Aires. Não posso falar muito porque não entrei. Como eu tinha planos de visitar o Zoológico de Lujan, achei que seria redundante a visita.  Mas, não deixem de visita-lo. Dizem que eles tem até um urso polar...
        Voltei ao Hostel de metrô. Que para a minha surpresa esta lotado em pleno final de sábado à tarde. As pessoas se cotovelando, brigando por espaço, justamente como acontece aqui em São Paulo (confesso que com um pouco mais de civilidade). Depois de várias baldeações malucas chegamos à linha A do metrô de Buenos Aires que data de 1913. As estações pouco conservam de sua arquitetura original, em minha opinião, e se conservam estão prejudicadas pela degradação. O mais estranho é o trem que circula por esta linha. Um trem bem antigo, com bancos de madeira, vários espelhos dentro e porta manual. Sim, portas manuais! Você precisa correr a porta para que ela abra. A Linha A do metrô de Buenos Aires lembra um filme de terror, e não estou brincando.
        Saltei na estação Congreso e fui para o hostel. Mas, desta vez não fui dormir. Como era sábado, dia de festa em qualquer hostel do mundo, resolvi que ia me socializar com o pessoal. E foi bem legal. Conheci muita gente interessante, tomei algumas Quilmes (não deixe de provar, é simplesmente deliciosa) e por volta das 02:00 da manhã fui “al boliche” (balada como eles dizem por lá).
        Tinha saído do Brasil já na intenção de visitar a filial portenha da Pacha, parada obrigatória para qualquer amante de música eletrônica. E assim o fiz. A Pacha Buenos Aires está na Costanera Norte próxima ao Aeroparque. A casa é pequena se compararmos com a extinta Pacha São Paulo, mas é bem bonita. Tem uma pista externa que fica de frente para o Rio da Prata, mas como era inverno e com uma frente fria chegando diretamente da Patagônia era impossível resistir cinco minutos lá. Não paguei pela entrada. Só pela consumação. Uma dose de tequila custava em média AR$20,00 (cuidado para não “emborracharse”; ficar bêbado).  Curti muito a balada. Fiquei impressionado com a habilidade do dj residente em passear por várias tendências da música eletrônica com maestria. Os jovens argentinos são bem divertidos. As pessoas sempre me perguntavam de onde eu era, o que eu fazia, se estava sozinho... Uma simpatia. Diferente da extinta sucursal paulistana, não senti aquele ar de glamour fake de classe A+ ++++ pairando no ar. As pessoas eram normais e todas estavam ali curtindo muito.
        Voltei para o Hostel meio “borracho”, confesso. Mas de alma lavada também. Nada melhor que sentir o seu coração batendo no mesmo ritmo da música, enquanto você de olhos fechados flutua sobre um mar de pensamentos calmos.  Dormi duas ou três horas, logo mais era hora de explorar a parte sul de Buenos Aires.

Dicas:
  •   As baladas portenhas começam bastante tarde, por volta das 02:00 da manhã e acabam por volta das 07:00. 
  •   Para quem curte música eletrônica uma boa pedida é o Crobar. Mas, Buenos Aires oferece balada de todos os tipos e para todos os bolsos. 
  • Reserve um dia completo para Palermo. Vale também um passeio por Palermo Hollywood que é o reduto das emissoras de rádios e canais de TV da capital portenha. A região oferece ótimas opções de bares, restaurantes e baladas.
  • Ao sair da balada fique esperto com o preço de táxi. Geralmente os táxis parados na porta das casas noturnas tem um preço fixo e tabelado bem acima de uma corrida normal. De San Nicolás até a Costanera Norte na ida me custou AR$28,00. Na volta, um taxista na porta da Pacha queria me cobrar AR$ 60,00 pela mesma corrida. Optei por esperar um táxi normal passar. A corrida de volta ficou por AR$30,00.
  • As mulheres brasileiras irão se sentir rainhas nas baladas portenhas. Mas isso, só indo para saber o que eu quero dizer. 

       

Avenida del Libertador em Palermo

Parque 3 de Febrero

Parque 3 de Febrero

El Rosedal

El Rosedal

El Rosedal

El Rosedal

Um dos Lagos Artificiais do Parque 3 de Febrero


Monumento da Av del Libertador

Planetario

Monumento na Av del Libertador

Praça em Palermo

Rua de Palermo

Jardin Japonés

Jardin Japonés

Jardin Japonés

Jardin Japonés

Jardin Japonés

Jardin Japonés

Malba

Interior do Malba

Jardin Botánico

Jardin Botanico

Estátua dentro do Jardin Botanico


Jardin Botánico

Trem da linha A do metrô

Pacha Buenos Aires