quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Quando um caipira vai a Buenos Aires - Parte I

Antes de começar a ler o meu relato algumas considerações:

- Estive em Buenos Aires em agosto de 2010, ou seja, não vou relembrar com riqueza de detalhes tudo. 
- Valores estão desatualizados, sim. Com a inflação galopante que a Argentina sofreu nos últimos 18 meses, alguns valores que eu apresentar aqui estarão em média 30% mais caros. (até me assustei pesquisando alguns preços para a minha próxima viagem).
- O melhor câmbio que encontrei na época era de R$ 1,00 = AR$ 2,14. Atualmente está R$1,00 = AR$2,50.
- Eu queria ser mais técnico no meu relato e passar informações mais relevantes para quem está pesquisando. Mas deixar de fora a impressão e as experiências pessoais da viagem tornaria o meu relato só em mais um guia turístico.
- O relato ficou extenso e por isso está dividido em partes. Ao todo fiquei 6 dias em Buenos Aires. Se tiver paciência para ler tudo, garanto que não vai se arrepender.
- Dúvidas é só gritar.

Introdução
    Ir a Buenos Aires era uma ideia que há anos pairava no ar. Em agosto de 2010 surgiu uma oportunidade única e dentro de uma semana comprei as passagens, reservei o hostel, arrumei as malas e embarquei. Claro, aquela era uma completa "aventura".
     Algo que foi muito essencial para que o meu "mochilão" não se tornasse um completo fracasso foram as pesquisas que eu realizei meses antes. Ao desembarcar em Ezeiza já me senti íntimo do país, "pero no mucho", como veremos adiante. Malas prontas, cartão de embarque na mão e o "portunhol" na ponta de língua, era a hora de embarcar. "Señoras y señores abrochen sus cinturones de seguridad...”.


1° dia: "O embarque atrapalhado e o desembarque traumático em Ezeiza”

Voando tranquilamente


     Havia comprado as passagens pela GOL saindo do Aeroporto de Cumbica às 10:55 da manhã com chegada prevista em Ezeiza às 13:50. Pensei comigo mesmo, horário super tranquilo, saio de casa por volta das 08:00 e ainda ganho uma tarde de bônus para fazer o primeiro contato com a cidade. Bem, ledo engano. Saímos de casa às 08:00 da manhã em plena quarta-feira e adivinhem? Ficamos presos num congestionamento na via Dutra. Para completar meu irmão esqueceu o endereço do estacionamento onde deixaria o carro. Resumo da história: ficamos rodando por Guarulhos e no final das contas resolvemos que deixaríamos o carro no estacionamento do aeroporto mesmo (péssima escolha: só o gasto com estacionamento quase que superou o nosso gasto com hospedagem). Chegamos ao aeroporto às 10:00 em ponto e a funcionária da Gol nos informou que o check-in do voo para Buenos Aires havia fechado há cinco minutos. Pagamos a “módica” taxa de R$180,00 para embarcar no próximo voo que sairia às 15:25. Como voltar para casa era arriscar a não conseguir chegar na hora do embarque novamente, tivemos que ficar de castigo tomando chá de aeroporto...
    Malas despachadas, registro na polícia federal feito, aquela olhadinha básica no free shop (que em minha opinião nem é tão barato assim), seguimos para a sala de embarque. Aí, este marmanjo que vos fala começa a suar frio, mãos trêmulas, pernas bambas...
    Passado o susto da decolagem o voo foi bastante tranquilo, o serviço de bordo simples, porém digno. Ver os pampas lá de cima, o Prata e seus barquinhos enquanto o sol de inverno banhava com seus últimos raios aquelas planícies verdes, foi uma experiência única. Desembarcamos em Ezeiza antes do previsto, a fila da imigração estava imensa, mas foi bem rápido o procedimento.
    Primeira dica: leve uma caneta e o endereço do hotel/hostel que você vai se hospedar num lugar de fácil acesso. Durante o voo, as comissárias entregarão uma espécie de ficha para você preencher, este cartão será carimbado pela imigração Argentina e será o seu visto de entrada naquele país. Guarde-o com a vida, pois se você o perder terá que pagar uma multa absurda ao deixar o território argentino. Importante: Não deixe de preencher o seu cartão ainda no avião, vi gente levando a maior bronca dos agentes de imigração na fila.
    Sobre o câmbio não se precipite e sob hipótese alguma troque naqueles quiosques ao lado das esteiras, a taxa é horrível. Deixe para trocar no banco de La Nación que fica ao lado direito do portão de desembarque, a taxa não é uma das melhores, mas é justa. Sem contar que a chance de te darem uma nota falsa é menor do que em uma casa de câmbio no centro.

   Bem, você deve estar se perguntando o porquê o meu desembarque foi traumático em Ezeiza, e eu explico. O primeiro episódio aconteceu na imigração, o agente pediu que eu assinasse o cartão, como eu havia guardado a caneta dentro da mochila, em bom espanhol pedi que ele me emprestasse, por favor, uma caneta. O infeliz faltou jogar a caneta na minha cara. “Bienvenido a Argentina”. 
   Segundo episódio: Havia separado uma determinada quantia no meu bolso esquerdo para trocar assim que chegasse ao aeroporto. Confiando na minha matemática (sou péssimo até contando dinheiro) entreguei o bolinho ao caixa do banco e pedi que ele trocasse para pesos. Ao pegar a volta em pesos achei meio estranho, pois havia menos dinheiro do que eu imaginava. Perguntei inocentemente quanto eu havia dado em reais. O homem levanta da cadeira já gritando que havia contado o dinheiro e que se eu quisesse contasse eu mesmo e jogou as notas sobre o balcão. Humildemente peguei, contei as notas, percebi que havia contado a menos, pedi desculpas, virei as costas e fui embora. Além desses dois “causos”, ainda houve o episódio com a compra das passagens de ônibus para o centro de Buenos Aires e as senhoras brigando com o rapaz do guichê da companhia Manuel Tienda León, mas deixa para lá...

   Para ir de Ezeiza ao centro de Buenos Aires há três opções: táxi, ônibus urbano e shuttle bus. Na época uma corrida entre Ezeiza e o microcentro estava custando em média AR$ 150,00. O ônibus urbano custava AR$ 1,10, mas levava mais de duas horas para chegar ao centro de Bs Aires, se você estiver com malas pesadas esta é uma péssima opção. Optei pelo shuttle bus da Manuel Tienda León, que custou AR$ 45,00 e eles levam até o terminal da empresa em Puerto Madero, e pelo adicional de AR$ 5,00 eles me levaram até a porta do Hostel que ficava no bairro de San Nicolás. Vale muito a pena. O guichê da Manuel Tienda León fica ao lado do banco de La Nación.

   Finalmente estava em Buenos Aires. Ver Puerto Madero iluminado, a Casa Rosada e a Avenida de Mayo pela primeira vez foi uma emoção indescritível para mim. Não era mais um postal, uma foto em um livro didático ou um daqueles encartes de turismo que fizeram parte da minha infância. Aquilo tudo realmente existia e eu estava lá.

   Como eu não havia tido muito tempo para escolher o hostel que iria ficar, acabei escolhendo o primeiro que respondeu a minha solicitação de reserva. Fiquei no San Nicolás que está localizado no bairro que leva o mesmo nome, na esquina da Bartolomé Mitre com a Avenida Callao (se não me engano). O hostel está alocado em um casarão estilo barroco italiano que foi erguido em meados de 1900. Super recomendo. Staff atencioso e simpático, tudo é bastante organizado e limpo, por um preço bastante atrativo. Em quarto individual a diária ficou por AR$ 175,00, como estávamos em dois foi super tranquilo. Os pontos fracos ficaram por conta da localização (achei meio longe dos principais pontos turísticos), o barulho da rua que chegava até os quartos e o fato dos quartos individuais ficarem no último andar, meio isolado do resto do hostel. Não é do estilo “party hostel”, mas é bem bacana. Tem um clima meio familiar, parece que todos te conhecem há muito tempo.

   Feito o check-in, larguei as malas no quarto e fui procurar um lugar para comer, àquela altura estava morto de fome. Por indicação do staff do hostel fomos a um restaurante chamado La Americana que ficava do outro lado da rua. Pedimos uma pizza e dois refrigerantes (gaseosa, como se diz por lá). A pizza estava simplesmente perfeita, e como bom paulistano que sou, sei o que estou dizendo. Massa fininha, muito recheio, queijo derretendo... Só de lembrar dá água na boca. O nível de serviço, se considerarmos a fama de “nuestros hermanos”, foi bom.
Mas foi aqui que aconteceu o episódio mais lamentável do dia do meu desembarque. Próximo a nossa mesa havia um casal argentino jantando, de repente a mulher começou a nos encarar e falar em voz baixa com seu marido. Até aí não estava incomodado, de repente ela chama o garçom (el camarero) e fala em voz alta: “No quiero sentarme al lado de esa gente”. Nisso o garçom troca os dois de mesa. Bem, aquilo foi um choque tremendo para mim. Já havia passado por situações chatas aqui no Brasil, mas nada comparado com aquilo.

   Voltei para o hostel extremamente chateado quase ligando para a companhia aérea pedindo para remarcar o meu voo de volta para o dia seguinte. Graças ao meu irmão que tem um espírito esportivo muito maior que o meu, acabei desistindo da ideia. Fui dormir chateado e achando que tinha sido uma péssima ideia ter ido à Argentina. Mais uma vez, para o meu bem, eu estava enganado.

Algumas dicas:
•    Se você tiver passaporte e quiser colecionar uns carimbos pode levar. Caso contrário apresentando apenas o RG sua admissão em território argentino é realizada. Mas, cuidado: certifique-se que a data de emissão do seu RG tenha menos de dez anos, que o estado de conservação esteja perfeito e a foto corresponda realmente a seu atual aspecto físico. CNH, carteira profissional, carteira de ordem, reservista ou qualquer outro documento não é aceito. E gentileza é uma palavra que não existe no vocabulário dos agentes de imigração daquele país.
•    Mesmo que você não tenha fechado a sua reserva com um hostel/hotel específico, leve o endereço e telefone de um deles para preencher o cartão de imigração. Houve gente que deixou em branco e depois foram crivados de perguntas.
•    Ao trocar o dinheiro peça algumas moedas também. Ônibus e metrô por lá só aceitam moedas como pagamento. E devido à alta inflação naquele país, as moedas são artigos raros.
•    Procure levar notas de reais em bom estado. O Banco de la Nación não troca notas com o com o menor rasgo que seja.


2° Dia: Avenida de Mayo, Florida e Arredores
   
    Acordei ainda meio chateado no dia seguinte, mas disposto a sair e conhecer a cidade. Tomamos um café da manhã simples (nota: se você é um viciado em cafeína, assim como eu, irá se decepcionar, o café argentino é muito fraco e sem gosto) e partimos do hostel em direção à Avenida Rivadavia. San Nicolás e Montserrat são dois bairros com um ar meio decadente, mas não deixe de apreciar a arquitetura desses bairros.

   Paramos em frente ao belíssimo prédio do Congresso Nacional argentino que com sua cúpula e escadarias lembra um pouco o congresso americano. Em frente fica Plaza de los dos Congresos (o senado fica ao lado esquerdo da praça), lá também há uma replica de “O pensador” de Rodin. A praça é bem bonita, mas quando eu fui estava em reforma. 
Nesse ponto eu comecei a mudar a minha impressão negativa sobre os portenhos: quando eu ia fotografar algo as pessoas paravam para que eu fizesse a fotografia e depois continuavam andando ou faziam um sinal como se perguntassem se já podiam passar. Achei isso bacana.

   Continuando agora pela Avenida de Mayo avistamos o Palácio Barolo que já foi o maior da América do Sul e tem a sua construção inspirada na Divina Comédia de Alighieri. Passamos em frente ao café Tortoni – que tem mais 150 anos e está intimamente ligado aos acontecimentos históricos e culturais da Argentina – e passamos em frente ao Cabildo (a antiga sede administrativa na época da colonização espanhola), finalmente chegando à Plaza de Mayo.
   A praça é, digamos, o marco zero não apenas da cidade mas do país.  Foi aqui que o povo se reuniu nos eloquentes discursos que fazia Eva Perón, quando foi feito o anúncio de guerra contra o Reino Unido e ainda tenho fresco na memória os panelaços realizados aqui no início dos anos 2000. Ao redor da praça está a central do Banco de La Nación e a Catedral Metropolitana de Buenos Aires, os dois merecem uma visita ao interior. Não deixe de tirar a tradicional foto em frente a Casa Rosada, se não me engano, aos domingos a casa é aberta à visitação.

   Atravessamos a praça e seguimos em direção à famosa Calle Florida, o paraíso dos consumistas brasileiros.  A rua é uma peatonal (calçadão como dizemos nessas bandas), com lojas dos dois lados. É aqui que você vai mais ouvir a boa e velha língua de Camões, a gente até se esquece de que está fora do Brasil.
Em minha opinião, os destaques da rua ficam por conta da Galeria Pacífico (arquitetura grandiosa, vale uma visitação interna, lembra bastante as Galerias Lafayette de Paris), se você tem bastante pesos saltando da carteira “caia de boca”, grife é o que não vai faltar.
   Se você é do tipo mais econômico vale a pena dar uma passada na Falabella (grande loja de departamento que vende de roupas a doces de leite), a loja da Timberland (preços no mínimo 30% menor que no Brasil) e a Reverpass (tem uns jeans e uns casacos por preços bons também). Se você está em busca das famosas outlets o seu lugar favorito, com certeza, será a Avenida Córdoba.

   Em relação às compras em Buenos Aires a minha dica é: não se iluda com a Florida, procure as lojas das ruas adjacentes e os shoppings centers.

   Tirando a parte consumista, a Florida é uma vitrine da Argentina. É interessante andar por aqui e observar o modo argentino de ser. Aqui fica evidente que você ainda está numa cidade da América Latina e que enfrenta os mesmos problemas que qualquer outra grande cidade do continente. Desemprego, mendicância, desigualdade social... Vendedores ambulantes se misturam com “promoters” de prostíbulos, com artistas de rua e mendigos... Enfim, no final das contas são latinos lutando pela sobrevivência.

   Se você tiver a possibilidade, dê uma passada aqui após as 18h00 ou aos domingos. Você encontrará os tradicionais casais dançando o tango “callejero” (tango de rua).

   No final da Florida (se você está subindo do centro evidentemente) tem a Plaza San Martín, a minha praça favorita de Buenos Aires. O entorno da praça tem um ar parisiense com seus prédios em “art nouveau” e seus cafés com mesinha na calçada. Daqui você tem uma boa visão dos bairros de Retiro e de Puerto Madero.

   Voltamos descendo pela Florida (agora olhando as vitrines com mais calma, comparando preço e comprando alguma coisa), dobramos na Córdoba e logo depois na clássica Avenida 9 de Julio (la más ancha del mundo), tirei algumas fotos da fachada do Teatro Colón e do famoso Obelisco, símbolo de Buenos Aires. Na Av. 9 de Julio tem muitos restaurantes e apesar de ser uma zona muito turística é possível comer bem, pagando pouco.

   Como havia andado muito, e o frio estava começando a apertar, resolvi voltar para o hostel. Passamos no supermercado Disco, compramos um monte de bobagens e continuamos pela Bartolomé Mitre até chegar ao hostel. Como estava muito cansado e aproveitando a calefação aconchegante do quarto não demorou muito para que eu dormisse como uma pedra. Era preciso recuperar as energias para o meu terceiro dia de exploração portenha.
Dicas:
•    A primeira é o que toca a segurança. Buenos Aires tem ares europeus mas enfrenta problemas sociais como qualquer cidade sul americana. Então tenha cuidado aos seus pertences. Seja discreto. Coloque sua câmera fotográfica, carteira, passaporte e objetos de valor junto ao corpo. Se tiver uma Money Belt melhor ainda.  Na região da Florida tem sempre tem um espertinho querendo passar a perna em um turista desavisado. Fique de olho!
•    Buenos Aires tem ruas largas e retas, o que olhando no mapa faz você pensar que tudo seja bem pertinho e rápido fazer andando a pé. Mas, não é. Use e abuse do metrô e dos táxis. Andar a pé em Baires é muito prazeroso, mas pode consumir o seu tempo e a sua disposição física.
•    Nunca é demais avisar: cuidado com os taxistas, eles adoram passar uma nota falsa. Ao entrar num taxi peça para que ligue o taxímetro e sempre pague com notas baixas o valor exato da corrida.
•    Nunca, jamais, sob hipótese alguma, troque seu dinheiro nas casas de câmbio da Florida. O câmbio é horrível³. Se estiver precisando trocar seu dinheiro enquanto estiver fazendo compras na Florida não se desespere. Boa parte das lojas lá aceitam pagamento em real e até oferecem uma cotação melhor que as casas de câmbio para pagamento em real. Mas se realmente estiver precisando trocar dinheiro, recomendo o banco Alhec que fica na calle Paraguay (última travessa da Florida antes da Plaza San Martín) oferecem uma cotação boa e o atendimento é respeitável.
•    Existe uma visita guiada ao palácio Barolo que custa AR$ 50,00 e ao final eles oferecem uma taça de vinho. Não o fiz, mas deve ser muito interessante. Não apenas pela construção, mas também pela vista que se tem a partir da torre. Dizem que nos dias de tempo bom é possível até avistar Colonia del Sacramento no Uruguai. Se tiver disposição financeira, faça-o.
•    O Cabildo é também um museu, apesar de não achar fundamental, se tiver com tempo e paciência para enfrentar a fila, vale a pena. Se não me engano às 10:00 acontece a troca da guarda da Casa Rosada, é também bastante legal. Não sei se ainda acontece, mas às quintas-feiras as mães da Plaza de Mayo costumavam se reunir lá.
•    A pronúncia de Florida é de flor e não como o estado americano da Flórida. Perguntava às pessoas ¿ Dónde está la calle “Flórida” ?  e as pessoas me olhavam com aquela cara de “no comprendí”.


Faixada do Teatro Colón



Calle Florida
Circulo Militar na Plaza San Martín

Congreso Nacional Argentino

Edifícios na Avenida de Mayo

Palacio Barolo

Catedral Metropolitana de Buenos Aires

Banco de la Nación

Plaza de Mayo / Casa Rosada

Casa Rosada
Congreso Nacional Argentino

Plaza de Mayo

Faixada do Banco de La Nación

Cabildo

Galerias Pacífico



Av 9 de julio com o Obelisco ao Fundo
Detalhe de estátua na Plaza San Martín
Plaza San Martín

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Expedição do Prata ao Pacífico : Como surgiu a ideia



    Aquela era uma manhã chuvosa de uns dos últimos dias da primavera de 2009. Estava navegando na internet e pensando o que eu faria para comemorar a minha graduação que aconteceria dali a um ano. A ideia, obviamente, era viajar para o exterior, aproveitando a combinação da minha disposição e o momento de câmbio favorável para o real.
Sempre quis ir à Europa: Paris, Roma, Amsterdam, Bruxelas... Mas, lembram? Eu era um universitário e estagiário, nem que eu vendesse o meu corpinho de 1,83m conseguiria dinheiro suficiente para financiar um tour europeu. Sem contar o risco de se quer pisar fora do Aeroporto Charles de Gaulle devido às burocracias da imigração dos países europeus.

    Então, por que não começar a minha vida de viajante internacional pelos países da América do Sul? Além de os preços serem mais acessíveis, apenas apresentando um documento de identificação se pode acessar a qualquer um deles. E ainda, os países do Cone Sul oferecem opções de passeios tão interessantes quanto a Europa. Desde grandes e cosmopolitas cidades como Buenos Aires e Santiago do Chile, até paisagens naturais deslumbrantes como a região dos Lagos Andinos, a Patagônia Austral ou os vinhedos de Mendoza.

    A ideia já havia se instalado, agora era partir para a parte mais trabalhosa e divertida de uma viagem: pesquisar hospedagem, roteiros, câmbio, etc., etc. Para muitos, isto pode ser entediante, mas para mim, esta fase de pesquisa é na qual mais aprendemos. Acredito que quando nos propomos a visitar qualquer lugar, sobretudo outro país, mais indispensável do que detalhes técnicos sobre os lugares é compreender e assimilar um pouco da cultura e história local, até como uma forma de amortizar um pouco o impacto cultural que se tem ao desembarcar em uma nação estrangeira.

    Originalmente a ideia era fazer esta viagem no entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, fazendo o seguinte roteiro: Buenos Aires > Bariloche > Mendoza > Santiago do Chile > Valparaiso e Viña del Mar.
Bem, acontece que as coisas não saíram da forma como eu planejava e em agosto de 2010 fui apenas para Buenos Aires onde fiquei cinco noites. A viagem foi maravilhosa (o próximo post será dedicado a minha experiência portenha), aprendi muito e inclusive foi nesta viagem que adquiri experiência que servirá de base nesta minha próxima aventura.

    Então, já fica a primeira dica: Se você é iniciante e está pretendendo fazer um mochilão longo, porque não fazer um test drive começando por uma “mochilinha” mais curta para adquirir experiência e até mesmo verificar se você é realmente adepto a este tipo de viagem mais econômica?
Uma viagem ao exterior, sobretudo quando você tem um orçamento apertado, mal planejada pode te trazer muita, mas muita dor de cabeça mesmo.

    Agora com a experiência portenha na bagagem e formado (sim me graduei em dezembro de 2010) defini que nas minhas férias do trabalho iria fazer, agora sim, uma expedição que cobrisse do rio Prata ao Pacífico. Teria que começar obrigatoriamente no Uruguai (país pelo qual me apaixonei ao sobrevoar o território em 2010), passaria pelas cidades argentinas já planejadas (Bs Aires, Bariloche e Mendoza) e terminaria no Pacífico chileno. Mas, ainda queria mais, queria ver algo que nunca tinha visto na minha vida, queria ser surpreendido e por isso coloquei a Patagônia austral no roteiro, escolhendo El Calafate como uma das cidades a serem visitadas.

    E assim ficou definida a Expedição do Prata ao Pacífico: Montevideo > Punta del Este > Colonia del Sacramento > Buenos Aires > El Calafate> Bariloche > Mendoza > Santiago do Chile > Valparaiso e Viña del Mar.

    Roteiro definido, pesquisas em andamento, agora começava a parte realmente mais dolorida de uma viagem: economizar dinheiro, cortar gastos desnecessários e focar meus esforços para esta viagem. Mas isto é conversa para outra postagem.